sexta-feira, 27 de abril de 2012

A chuva me faz mudar os planos.

domingo, 22 de abril de 2012

Jovialidade e aparatos tecnológicos

Tenho uma professora de mais de 60 anos, de conhecimento admirável e energia invejável. Outro dia, ela nos indagou sobre Ipads pois estava pensando em comprar um. E um aluno que tem o aparelho foi explicar a ela quais os modelos, como funcionavam, as vantagens, desvantagens etc.

O fato é que a professora não tem "necessidade" alguma de um Ipad. Por que falo isso? Porque ela mal sabe operar com destreza e paciência um computador e os recursos da Internet. Diria que sabe mais, inclusive, do que várias pessoas que conheço da sua mesma geração, contudo explora o básico das possibilidades do mundo online.

Questionada por outro aluno: a senhora precisa de um aparelho desses? Ela responde: "ah, eu não quero ser uma velha chata, sabe? Que ficou pra trás. Não, não quero mesmo. Vejo meus coleguinhas lá na PUC usando esses aparelhos e me sinto fora.. não gosto disso não". Ou seja, a corrida da professora (já doutora, mas que cursa graduação em Teologia na PUC- possivelmente como hobby, deleite e em busca de dinamismo intelectual) era contra a rechaça dos jovens e seus hábitos tecnológicos. Ficar para trás é, para ela, uma aflição sem igual. Cartão de passagem para acessar os jovens: um Ipad, Iphone etc.

Ouvia ela falar e ficava boquiaberta. Não sendo mais uma jovem, mas também ainda nos quase 30, questionava-me sobre as inseguranças que os "updates" tecnológicos nos colocam. Insegurança quanto ao domínio, ao pertencimento, ao tribalismo, ao acesso, à comunicação, à jovialidade. Sim, porque hoje não ter Ipad, Iphone, conexão all the time etc. significa ser tachado de uma pessoa da "idade da pedra", resistente, por fora, desconectada.

Bauman, o homem dos líquidos, disse que passamos por isso em relação às amizades: nas redes, é muito mais fácil e menos sofrido conectar/desconectar um amigo. Já quem está fora dela, sofre o pão que o diabo amassou. É por isso que sofremos para nos ver: eu, meu amigo que não tem celular e minha amiga que não tem Facebook. Desconectados e tachados de "românticos" ou à moda antiga (escrever um email hoje é  comparado a escrever uma carta em tempos atrás).

É, professora, como a senhora, tem mais gente por fora das instantaneidades dos aparelhos. Talvez só não estejam tão preocupados com a jovialidade perdida diante disso. Não se trata de andar na contramão burramente, mas apenas de qualificar as necessidades. E burra eu sei que a senhora não é.