domingo, 25 de novembro de 2012

Noite em que Nova Iorque parece quieta, tamanho o sentimento de compromisso e inquietação está aqui dentro. Palavras corretas para escrever. Falta isso. Toda a coragem que deveríamos ter em um blog e que não temos em outros papéis. Ouvindo WBGO Jazzzz.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Um menino, um bandido
Às vezes me preservo
Noutras, suicido

domingo, 15 de julho de 2012

Além de carne e osso, eu sou um bicho cheio de palavras, sentimentos, pensamentos, que excedem o tecido epidérmico e explodem mundo afora.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Um dia presentearam Joana com uma viagem.
Ela aceitou de bom grado, alegre e satisfeita. Não sabia, contudo, que estaria levando com ela um pequeno dispositivo que projetaria todas as imagens de suas itinerâncias para aqueles que a presentearam.

Joana foi, voltou e percebera um ar diferente quando falava de suas histórias de viagem. Sentia só a confirmação apática de tudo que dizia nos semblantes dos outros. Falou, falou e depois esimesmou-se. As imagens já haviam falado por ela.

Sem sentir o sabor de uma grande história para contar, ou de uma feição de aprovação de tudo aquilo que dizia, caiu numa depressão violenta. Televisão e computador eram suas únicas companhias.

Certo dia, à janela de seu quarto, Joana ouviu um canto de pássaro. Então percebera que o mundo já falava por si e que suas histórias pouco dariam conta daquela imensidão.


***

O que se passa é resumido da seguinte maneira: queremos, com palavras, dar formas às experiências que vivemos. O problema é que, por alto, podemos resumir o ato experimentar de dois modos: a) de um jeito puro, uma experiência de primeira mão e b) de um jeito intermediado, uma experiência de segunda mão.

As palavras de Joana não era senão uma interface para com o passado, e a interface é só isso, justamente uma face intermediária, um hub de vetores que tenta unir o inexperenciável com o parcialmente recontável. O erro de Joana foi querer ser imparcial e trazer, com seu ânimo pueril de quem retorna cheia de histórias, uma experiência de primeira mão impossível de acontecer - mesmo em si, porque a forma a), pura, não passa de um engodo fenomenológico. Joana teve de cair na própria ilusão - pela segunda vez, portanto - para perceber que a forma b), intermediada, também era impossível (o que nos leva uma espécia de vácuo ontológico em que nada, de fato, consegue escapar do ilusório). Na impossibilidade de reviver o sensível-não-sentido, calou-se ainda mais, e precisou aprender a reinventar, recontar, reapresentar.

Televisão e computador já não seriam mais companhia. Memórias e pensamentos, esses sim.

quinta-feira, 5 de julho de 2012


Como você consegue ser tão chata? - Me pergunte.
Por que você pergunta com tanta chatice? - Você consegue.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Eu fagocito ruas, eu me alimento dos lugares

Faço coleção de lugares na minha memória porque simplesmente adoro caminhar por lugares novos, conectar lugares novos a já conhecidos, perder-me em velhos lugares procurando novos.

Hoje, particularmente, tive uma ótima experiência ao conhecer ruas e ruelas novas no Botafogo, em especial a Rua Fernandes Guimarães, onde fui com um amigo a um restaurante tailandês. Como pano de fundo da rua, uma grande pedra coberta da névoa de um dia chuvoso e, de ambos os lados, casas com fachadas características de um estilo moderno-decadente quase esquecido. Respirei o ar daquela rua de tal maneira que já pouco importava onde iríamos almoçar. Atmosfera calma, confortante, de uma cidade dentro da outra, de um clima pacato, mas nem por isso pouco atraente ou apartado de uma comunicação com as delícias da cidade grande.

Ao fim da rua, avistamos a placa amarela do restaurante do dito almoço tailandês. Desconfiamos que estivesse fechado pela calmaria que aparentava. Mas ao chegarmos mais próximos, entramos, sentamos, almoçamos e conversamos. Atendimento impecável, clima europeu no interior do lugar (decoração com lindos tons de madeira, luminárias laranjas e paredes verdes) e uma impessoalidade vital a qualquer vivente urbano que goste do anonimato. Algumas pessoas entram, outras saem, sem o incômodo de um encontro com conhecidos. Dentro daquele lugar, eu me senti em vários outros: numa cidade americana, em Buenos Aires, em Porto, num restaurante de Londres etc etc. Viajei ali dentro, atraída pelo fora, pela atmosfera, pela identificação de um bom momento com a cidade que construo dentro de mim.

No final de uma rua, uma grande pedra, a névoa, as casinhas e suas fachadas, a placa amarela do restaurante, a caminhada, eu e minha paixão pela ventura urbana.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sou facinha de ser encantada... e desencantada.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A chuva me faz mudar os planos.

domingo, 22 de abril de 2012

Jovialidade e aparatos tecnológicos

Tenho uma professora de mais de 60 anos, de conhecimento admirável e energia invejável. Outro dia, ela nos indagou sobre Ipads pois estava pensando em comprar um. E um aluno que tem o aparelho foi explicar a ela quais os modelos, como funcionavam, as vantagens, desvantagens etc.

O fato é que a professora não tem "necessidade" alguma de um Ipad. Por que falo isso? Porque ela mal sabe operar com destreza e paciência um computador e os recursos da Internet. Diria que sabe mais, inclusive, do que várias pessoas que conheço da sua mesma geração, contudo explora o básico das possibilidades do mundo online.

Questionada por outro aluno: a senhora precisa de um aparelho desses? Ela responde: "ah, eu não quero ser uma velha chata, sabe? Que ficou pra trás. Não, não quero mesmo. Vejo meus coleguinhas lá na PUC usando esses aparelhos e me sinto fora.. não gosto disso não". Ou seja, a corrida da professora (já doutora, mas que cursa graduação em Teologia na PUC- possivelmente como hobby, deleite e em busca de dinamismo intelectual) era contra a rechaça dos jovens e seus hábitos tecnológicos. Ficar para trás é, para ela, uma aflição sem igual. Cartão de passagem para acessar os jovens: um Ipad, Iphone etc.

Ouvia ela falar e ficava boquiaberta. Não sendo mais uma jovem, mas também ainda nos quase 30, questionava-me sobre as inseguranças que os "updates" tecnológicos nos colocam. Insegurança quanto ao domínio, ao pertencimento, ao tribalismo, ao acesso, à comunicação, à jovialidade. Sim, porque hoje não ter Ipad, Iphone, conexão all the time etc. significa ser tachado de uma pessoa da "idade da pedra", resistente, por fora, desconectada.

Bauman, o homem dos líquidos, disse que passamos por isso em relação às amizades: nas redes, é muito mais fácil e menos sofrido conectar/desconectar um amigo. Já quem está fora dela, sofre o pão que o diabo amassou. É por isso que sofremos para nos ver: eu, meu amigo que não tem celular e minha amiga que não tem Facebook. Desconectados e tachados de "românticos" ou à moda antiga (escrever um email hoje é  comparado a escrever uma carta em tempos atrás).

É, professora, como a senhora, tem mais gente por fora das instantaneidades dos aparelhos. Talvez só não estejam tão preocupados com a jovialidade perdida diante disso. Não se trata de andar na contramão burramente, mas apenas de qualificar as necessidades. E burra eu sei que a senhora não é.

terça-feira, 27 de março de 2012

Quando o lado de dentro tá desarrumado, o lado de fora acompanha desarrumando.
Desarrumar. Des-rumar. Sem rumar.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Hoje, na faculdade, tive uma sensação tão boa... Me senti imersa nela, por meio do acolhimento das pessoas ali, num sentimento mútuo de querer bem. A diferença de hoje para uns 2 anos atrás é imensa. Àquela época, eu era uma tacanha garota vinda do nordeste, observando de fora tudo que acontecia ao meu redor, me apequenando ante gigantismos, desconhecimentos, figurões da área etc.

Pisei, hoje, num terreno mais conhecido, mais sólido, onde pude respirar o cheiro bom do calor humano, sem tanta pequenice (ainda que uma timidez me afete sempre). Terreno regado, cultivado, percorrido, no qual hoje me reconheço, passados 2 anos, junto a todos como mais uma folha da árvore.
Andar por uma rua nova é um prazer imenso. É como descobrir mais uma peça de um grande quebra-cabeça que ansiamos completar.

Andar no meio de gente, de ruídos, de cheiros, de construções, de velocidades distintas... Preciso ver pessoas em ampla diversidade e pensar que me confundo com elas. Elas me jorram sangue de mundo.

Quando motores soam e as vozes se amontoam, numa confusão tão diversa, caótica e vibrante, deixo que eles me atravessem deixando a marca da sua efemeridade. Passar, percorrer, transitar, deslocar-se... e levar consigo um pouquinho do ar de vidas outras, além da minha mesma.

É assim que o mundo me sopra.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O tempo da escrita nunca é o mesmo do mundo lá fora.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Convidada oficialmente para não deixar a peteca cair.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Voltar ao Rio agora tem uma conotação diferente. Não se trata mais de um tempo de adaptação, de inserção num espaço novo. Trata-se de um tempo de maturação, de arredondamento de arestas.

Busco forças para diminuir uma tonelada de anseios que trago nas costas sem querer ser atropelada pelo tempo (o sempre ditador). Como numa estratégia bélica, tento reunir o necessário para atingir o alvo. Temo, por vários lados, porém. Pela ânsia, pela avalanche de informações, pela intolerância.

É... cada dia é um a menos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Disse o filho para a mãe:
- Mãe, tô com fastio.
Responde ela:
- Mas você precisa comer alguma coisa, menino!
Ele:
- Não quero, mãe.
Ela:
- E vai ficar sem comer nada? Você não se sustenta em pé desse jeito.
Ele:
- Tô sem um pingo de vontade...

Mal sabia a mãe que o filho não sentia outra fome, além da corpórea. Fome de vencer.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Minha dívida com o mundo já é muito grande. A corrida é só por não aumentá-la ainda mais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Há um dado de racionalidade na vida contra o qual pouco podemos fazer. É aquele que faz você levantar quando tudo o que você queria era permanecer deitado.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O grande problema é que sou apaixonada pelos modos de sermos urbanos. Aqui e nas cucuias. Como diria J. Robinson, o modo como somos "ordinários" carregam peculiaridades que não estão dentro de parâmetros globais, simplesmente.
É assim que vemos cidades grandes com modos tão provincianos de agir e, por outro lado, cidades pequenas com suas ilusões da grande cidade.
***
Meu interesse acadêmico quer ir no quebradiço e obtuso das grandes para, quem sabe, revelar-lhes mais um "ordinário".