sábado, 7 de dezembro de 2013

Muito da consciência do corpo só vem com a idade.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Afago ou afasia?

domingo, 27 de outubro de 2013

Acho que às vezes observo as pessoas e vejo mais do que devia. Ou mais do que elas gostariam.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Pequena descoberta do dia: o verbo "olcluir".
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O mal está em não ver mal algum.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pavor, medo, pânico, choque... Não sei definir o que sinto ao ver uma barata. Só ela e eu, eu e ela, sem qualquer outra intercessão. Congelo, logo não penso.

domingo, 23 de junho de 2013

7 portas, um mundo

Um sábado desses fui a 7 portas, local de Salvador, conhecido por seu comércio popular (ou a preços populares, ou onde o povão encontra de tudo um pouco). Alguns já diziam que aquele lugar, caótico, amontoado, cheio de coisas e de gente,  seria as "7 portas para o inferno". Confesso que tinha curiosidade de conhecer essas "portas"e que "inferno" é esse que elas abririam.

Entre 10h e 11h da manhã, começamos a andar por ali em busca de coisas específicas: latas de tinta, gesso, lixa e outros materiais de pintura. Estava mais como uma companhia curiosa que, de quebra, olharia como funciona o comércio lá. Definitivamente, há coisas que só experimentando vira sentido, conhecimento e afeto. A pluralidade de comerciantes (da fruta aos plásticos, das gaiolas aos caranguejos), sem o imperativo da hierarquia, levantou sensações boas, de pertencimento. Um pra-lá-e-pra-cá de pessoas, chão sujo, alguns prédios e traços arquitetônicos decadentes, para citar alguns traços, contribuíram para perceber certas animações sociais dadas àquele lugar.

Outro dia voltei lá, com outros propósitos, para encontrar outras coisas que só lá se encontram mais baratas. Lá tem uma Salvador menos maquiada, coisa que gosto de ver. Cresci indo pro centro da minha cidade e devem restar inconscientes alguns cheiros e sentimentos daquela experiência frenética de um comércio vivo. Ainda não sei a real origem do nome 7 portas e não existem 7 portas especificamente lá que o simbolize. Vou tentar pesquisar. O que marcou, contudo, na bagunça boa do lugar, é que nem todo inferno é tão malicioso assim. É povão, é visceral e menos tenso do que muitos lugares por onde andei aqui.

Aos observadores ou exploradores de plantão, vale conhecer. Compra lá um pastel com caldo de cana e deixa as portas se abrirem.
Vagando na web, encontrei estas sensacionais dicas (dogmáticas nunca) ou motivações para escrever ficção, mas eu diria que podem ser lidas por quem escreve uma tese também.

http://catalisecritica.wordpress.com/2011/04/27/dez-regras-para-escrever-ficcao/

Eu não me arrependi de ler. Ri um pouco e até ganhei uma motivaçãozinha.

quarta-feira, 27 de março de 2013

A gente sempre quer pensar no sim, mas o não tá ali, disponível como opção para aquelas decisões irruptivas, radicais, resolutivas. É pegar ou largar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Cordas: livres delas?

É Carnaval.  E estar em Salvador me fez refletir sobre uma relação entre negros, servilismo e liberdade, metaforizada na figura das cordas.

No dia anterior ao qual fui ao carnaval soteropolitano, assisti a Django livre - último filme de Tarantino, do inglês Django Unchained. O filme traz a história do escravo Django, que se arrasta e é arrastado (na polissemia mesmo do termo) ao encarnar o papel que vai de um negro servil a um típico atirador inveterado de bang-bang. A ficção está aí para ser vista, por isso não vou aqui pormenorizá-la. O que quero destacar, no entanto, é a ranhura que existe entre o carnaval baiano e a predisposição negra à subserviência, esta última presente seja nas violentas cenas de tronco e cordas modeladas por Tarantino ou naquela que leva um imenso cordão humano e subserviente a cercar um bloco (de pessoas) atrás do trio elétrico.

No Carnaval, os "cordeiros" - como são chamados esses homens e mulheres que circundam uma "multidão diferenciada" com a força dos braços em grossas cordas - ganham alguns poucos vinténs para estarem ali no servil papel de isolar um bando - que pagou o abadá do bloco - do resto do povo. Apesar desse papel parecer de menor importância na grande festa da carne, simbolicamente é tão forte quanto a força que eles exercem no empurra-empurra humano.

A corda, ali, é símbolo da cisão, da separação, da filtragem. Fora dela, a multidão indiferenciada, o "povão", é espremida num espaço diminuto que choca com as paredes dos camarotes da elite. O cordão, negro em sua maioria, de feição sofrida, por vezes com luvas nas mãos, impõe a força braçal mais incoerente da Bahia: acorrentai e protegei aqueles que pagam por este solo. É desse servilismo econômico, desse apartheid contemporâneo, que falam as cordas negras do carnaval da Bahia. A liberdade é ali apenas uma falida retórica da terra de todos os santos.

Toda relação seria possível com o desacorrentado Django de Tarantino. A situação do negro escravo no filme põe em pauta, numa situação oitocentista, a dependência miserável entre negros-mercadorias e brancos-endinheirados. Prisões, punições, sofrimento, subserviência, desespero, grades, caixas e cordas. Algumas das situações, quando enquadradas na tela, podem parecer muito mais desconcertantes do que a penúria dos cordeiros do carnaval. É, porém, horripilante constatar que a "liberdade" negra na terra mais afro do Brasil não é nem mesmo aspirada na ruptura dos cordões e correntes sócio-espaciais.

Enquanto Django dança no seu cavalo, a Bahia se debate nos muros totêmicos dos camarotes.