segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cosmopolitismos

O Rio é a cidade mais cosmopolita que já habitei. E me dou cada vez mais conta disso pelas conversas com cariocas, baianos, suecos, cearenses, paulistas, alemães, maranhenses, franceses, pernambucanos, gaúchos, mineiros etc. Há quem não queira enxergar o quão múltiplo e brasileiro esse lugar é. No fundo existe aquele velho apelo ao que é de fora, ao que é do "primeiro mundo".

É que, no Rio, existe aquele fenômeno dos apartamentos, como em qualquer outra metrópole. Deles, se não quisermos sair, pouca diferença faz o lado de fora, as possibilidades que se lançam no embate com outros. É até curioso perceber esse fenômeno do "particularismo" cujas consequências tomam conta dos discursos. Difícil cosmopolitizar o discurso quando não se cria vínculos com o que se tem ao descer do prédio.

Faz quase dois anos que moro aqui e ainda me sinto uma neófita nessa cidade. Tantos sãos seus estímulos, suas manifestações culturais, seus espaços a conhecer, suas entranhas, suas artérias das quais, aos poucos, usufruo. É muito Rio a conhecer antes mesmo de habitar um país lá fora. Aliás, se o nosso habitar aqui dentro se esforçasse mais em ver o que se expande de nós para fora, poderia ser muito mais proveitoso do que alimentar o discurso do "morar lá fora". Cosmopolitizemo-nos sem essa premissa de que o Brasil é o fim do mundo. Mundo é o que fazemos dele para além de nossos apartamentos.

domingo, 27 de novembro de 2011

Encontrar baianos fora da Bahia e sem ser no carnaval tem seus bons frutos.

sábado, 19 de novembro de 2011

Preciso dizer que fico muito muito muito acanhada em receber elogios. É como se eles nunca tivessem sendo dirigidos a mim, mas a outra pessoa que não corresponde a mim, mas usa meu corpo e meu nome para sê-la. Aí preciso ser a mediadora dos elogios porque eu, que sou eu, quando recebo algum, rio desconcertada e olho um pouco para o lado, como se repassasse o elogio para o invisível.

No meio acadêmico, principalmente, começamos a adquirir certos "carimbos" com os quais nos identificam. "Ah, ouvi falar que escreve bem" ou "Ah, fiquei interessada na sua pesquisa porque eu também me interesso pelo seu tema"... ou ainda "Ah, lembrei de você pois vi algo que pode te interessar". Ok, lembranças são bem vindas. O problema são os embaraços que elas provocam. O que realmente estou pesquisando? Que densidade acadêmica estou construindo? Que pensamentos saem do meu texto pelos quais quero ser lembrada? O que vêem no meu texto faz parte do que identifico de bom nele?

Percebo que estou num lugar no qual tenho uma grande interlocução e onde construiria, talvez, uma imagem intelectual da qual me aproximaria mais e até me faria fundir àquela que recebe os elogios. O que sinto, no entanto, é que ainda repasso toda a apreciação que me é destinada àquela que está às minhas costas.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

"Quando se digita, a solidão parece que fica mais leve". Li essa frase numa entrevista com Fausto Fawcett, o homem que escreve sobre Copacabana. A frase, por sinal, faz todo o sentido no tempo em que as teclas e telas acalentam os solitários.

Curiosamente, afetada por um efeito de resistência, escrevi um pequeno postal esses dias e mandei a uma pessoa querida. Tinta, caligrafia, inclinações e pequenos borrões foram enviados para longe, justamente como forma de tornar mais acolhedoras as palavras e uma série de sentimentos. As letras ao padrão da mão e as expressões afetivas no traço da caneta pretendem, ainda que não obtenham sucesso, guardar alguma reverberação do momento da escrita.

O destinatário da palavra escrita é alvo de um exercício sofisticado de sentidos: manusear o objeto escrito, entrar no ritmo irregular das letras, pôr a locução do escritor em off - como se percebesse cada vírgula como uma respiração característica dele, ler as entrelinhas possíveis.

É no engano ou na lucidez de meus próprios sentidos que esse rebater de ideias quer aqui ser ouvido.